"Fé é uma luz que brilha na escuridão. Obrigada Senhor pelo Dom da Vida."
Prefácio

Recordações são como o sol, sempre indo e retornando para trazer aquilo que há de mais belo em nós. A existência, permeada de sentimentos que sequer compreendemos, é o solo adubado pelo nosso Criador. Somos sementes precisando de experiências que nos dêem forças para romper a terra, gerar e compartilhar nossos frutos. O tempo que escorre pelos dedos é a fonte do maior tesouro humano.
Algumas sementes naturalmente carregam a energia da vida. Estamos falando daquelas pessoas que irradiam uma aura inspiradora, com raízes brilhantes o suficiente para iluminar o caminho embaixo da terra através do exemplo. São como espelhos que nos permitem encontrar nossa própria luz para também crescermos.
Bivó, Izabel Nunes de Faria, você é um grande exemplo de como a alegria pode ser encontrada no cuidado com quem amamos, na simplicidade, na resiliência e, acima de tudo, na fé.
Em nome de toda a família, agradeço por sua vida.
Isabela Faria Zinn
Introdução

Na literatura, um ponto de vista é a perspectiva a partir da qual uma história é contada.
O escritor pode escolher escrever na primeira pessoa, aproveitando histórias que focam no sentimento e em um protagonismo único. Ou, na terceira pessoa, aproveitando um maior número de personagens e núcleos.
Essa é minha história e são minhas memórias. Por isso, convido vocês a tentarem ouvir minha voz enquanto conto como tudo começou...
Capítulo 1 - De 1932 a 1941 - O começo de uma linda jornada

Nasci em 1934 na Fazenda Cachoeirão, município de Itapagipe - MG, onde vivi até os 5 anos.
Meu pai, Lázaro Nunes Gonçalves, nascido em 1875, e minha mãe, Maria Luiza da Silva, nascida em 1895, se uniram em matrimônio religioso em 1910 e no civil em 1912. Em 10/6/1911 tiveram o seu primeiro filho, Antônio.
Então vieram os outros filhos, Adolfo (1912); Rita; Onobre (1914); João (1916); Severiana; Sebastião (1918); Pedro (1920); Maria; Alexandrina; Jerônimo (1925); Firmina (1927); José (1929); e, Agostinha (1932).
Antes mesmo de eu nascer, meu irmão Antônio se casou com Maria Luiza em 1932. Na época, ele tinha 20 anos. A família parecia completa. Papai e mamãe já tinham começado uma nova etapa da vida: já eram avós, com sua primeira neta nascida em maio de 1934.
Então eu cheguei em novembro, a 15ª filha. 
Reinei por 5 anos sendo a caçula; a raspa do tacho; a irmã mais nova. Eu era muito geniosa e apesar de todos os meus irmãos quererem cuidar de mim, eu só aceitava os cuidados da mamãe e da minha irmã Firmina.
Em 1939, minha mãe deu à luz ao Manoel. Naquele dia, mamãe passou pela sua 16ª experiência de parto. Ela, que já era doutora em dar à luz, não imaginou que aquele momento seria tão diferente, tão único e tão sofrido. A família, que estava acostumada a receber seus novos participantes ao som do lindo e estremecedor choro dos bebês, não pôde celebrar mais um nascimento.
Manoel não estava pronto para esse mundo. Tão logo foi retirado do ventre e voltou aos braços do nosso Pai Eterno.
Mamãe dizia que chorei muito com a perda do meu último irmão. Ainda me lembro bem desse acontecimento. Tal como um filme que reprisa na televisão, apesar de só ter 5 anos, me lembro claramente de quando o médico chegou para fazer o parto. Corri e me escondi no quintal. Só voltei para casa depois de ouvir o barulho do carro que o trouxe indo embora.
A vida, depois desse triste acontecimento, seguiu. Mamãe e papai não tiveram mais filhos.
Minha infância, em meio a tantos membros da família, foi recheada de muitos cuidados. Eu adorava ir de encontro aos meus irmãos quando chegavam em casa. Já a Agostinha era mais tímida e, enquanto eu corria para os braços deles, ela corria quando os via.
Mas nós duas estávamos sempre juntas.
Eu gostava de cuidar dos animais. Tínhamos na fazenda bezerros, leitões, galinhas e até um macaquinho que ganhei do meu irmão José, chamado Chico.
Quando o Chico se sentia ameaçado, grudava na minha panturrilha e eu saía correndo pelo quintal com ele ainda pendurado na minha perna. Papai gritava “Tira esse macaco da sua perna, ou ele ainda vai te morder”!
Certa vez, eu e Agostinha queríamos fazer pulseiras que estavam na moda, mas precisaríamos de umas moedas que o papai guardava. Agostinha disse: “Você vai pedir ao papai. Ele nunca briga com você”.
Eu fui. Lembro-me que ele estava trabalhando na roça. Quando ouviu meu pedido, parou. Olhou em minha direção e, meio que pelo canto dos olhos, disse: “Quando eu morrer vocês podem pegar as moedas”.
Enfim, eu e a Agostinha nunca tivemos a oportunidade de fazer aquelas pulseiras. Papai viveu até os 81 anos.
No ano de 1940, meus irmãos Adolfo e Pedro encontraram as mulheres de suas vidas. Adolfo se casou com Francisca (a Nena) e Pedro com Olívia, a quem tive o prazer de chamar de madrinha por muitos anos.
O casamento do Pedro e da Olívia foi em Viadinho/SP, atualmente chamada de Riolândia. Durante a viagem, lembro-me que atravessamos o Rio Grande, que separa Minas Gerais de São Paulo. Até hoje, quando passo por lá, minhas memórias daquele tempo voltam à mente com toda a clareza.
Eles queriam que eu levasse as alianças, mas naquela época minha timidez não me permitiu viver esse momento e me recusei a sair de perto da minha mãe. 
De 1940 até 1941, morei em Itapagipe (que àquela época se chamava Lageado). No ano de 1942, voltamos para Fazenda e tivemos mais casamentos na família. O João se casou com a Francisca, enquanto o Onobre com a Antônia.
De 1946 a 1948, morei com meu irmão Onobre e sua esposa Antônia em Itapagipe para continuar os estudos.
Na escola, eu era muito estimada pelos professores. Era uma escola mista de meninas e meninos, e eu sempre gostei muito de estudar. Mas como todo mundo tem seu ponto fraco, tive que aprender, em particular com minha professora, a tabuada.
Naquela época, tínhamos competição de tabuada e quem perdia levava uma “palmatória” do adversário, mas sempre terminávamos amigos.
No início de 1950, fui para Goiânia com meu irmão Adolfo e sua esposa Nena e os filhos: Inocência, Maria Helena, Nelson Luiz, Reinaldo e Adalberto. Ainda me lembro bem quando seu sexto filho, Milton, nasceu em 18/9/1950, Goiânia.
Meu irmão Jerônimo também veio conosco e meu outro irmão Sebastião já morava em Goiânia desde 1948, na Vila Coimbra, Rua 232.
Pausa para falar da minha memória impecável, que ainda mantém registrado tantas datas, histórias e nomes. Minha família costuma brincar que eu invento essas datas e informações, já que ninguém lembra mesmo, então não vão me contradizer. Mas posso garantir que não aumento e nem invento. Na verdade, acho que me lembro de tudo porque, pra mim, a vida não é só uma simples jornada. Isso me deixa sempre atenta a tudo.
Voltando às minhas lembranças...
Em Goiânia, Adolfo e Jerônimo montaram uma padaria que funcionou até 1958, quando Adolfo mudou para Brasília e seguiu com o mesmo ramo de negócios.
Meus irmãos me proporcionaram a felicidade de ser Tia 50 vezes. Tive, e ainda tenho, o prazer de conviver com esses sobrinhos e sobrinhas ao longo da minha existência.
Para mim, a família sempre foi a base de tudo.
Capítulo 2 - De 1950 a 1953 - Namoro, Noivado e Casamento

Em 19/11/1950, eu estava no auge dos meus 16 anos. A vida seguia um rumo normal com escola, encontros com a família e, naquela época, eu só queria aprender a andar de bicicleta.
Um dia, eu estava com minha cunhada Olímpia no quintal da casa dela, quando viu um rapaz e o chamou. Perguntei de quem se tratava, e ela me disse que era filho de Dona Sebastiana.
Ele se aproximou e ela disse: “Essa é minha cunhada que você queria conhecer”.
“Como assim, ele queria me conhecer?” Ao olhar aquele rapaz, ainda sem a resposta para essa pergunta, senti pela primeira vez que o coração às vezes bate diferente. Parece que ele está meio apressado, querendo sair do peito. A respiração fica esquisita, as pernas não respondem a todos os comandos e, apesar da minha tenra idade, não demorou muito para eu perceber que ele era meu primeiro amor. O amor ideal.
Permitam-me o perfeito trocadilho que a vida me permitiu viver, um amor ideal com o Ideal.
Em Goiânia, nosso namoro foi muito vigiado. Naquela época era assim, nada de pegar na mão, nada de beijo e sem a mínima chance de ficarmos sozinhos. Não tive nenhum problema em seguir as regras, não precisava tocá-lo para sentir que sua presença era acolhedora, seu olhar era amoroso e seus atos eram de pura proteção.
Nosso relacionamento foi um pouco tumultuado porque meus irmãos não aprovaram. Eles achavam que eu era muito nova para namorar e que precisava aproveitar a oportunidade para estudar. Eles disseram: “Ou termina o namoro, ou volta para a casa da mamãe”.
Mas o amor falou mais alto: não ouvi meus irmãos e, por isso, fui mandada de volta para a Fazenda por volta de Julho de 1951.
A viagem de volta foi longa, primeiro fui de avião até Uberaba/MG. Não sei se o frio que sentia na barriga era causado pelo voo ou pela saudade do meu Ideal.
Depois fui de jardineira até Itapagipe. Para os mais novos, preciso explicar que jardineira era um veículo da época - nem carro, nem ônibus - então nem pensem em imaginar que fui para casa sentada em um vaso de flores.
Chegando em Itapagipe, meu irmão Onobre me dizia: “Você acha que esse rapaz vem te procurar, com tanta morena bonita que tem em Goiânia? Você só perdeu a oportunidade de estudar”.
Mamãe era uma pessoa iluminada, não fazia julgamento precipitado. Depois de uns dias é que fiquei sabendo da carta que meu irmão havia endereçado a ela, informando do meu namoro. Mas mamãe não sabia ler e foi Olívia quem leu a carta para ela, que falava do meu namoro e da preocupação dos meus irmãos sobre o que poderia acontecer comigo.
Fiquei sabendo que mamãe apenas disse: “Mande-a de volta, é minha filha”.
Quando cheguei não recebi nenhuma repreensão, ela nunca me perguntou o que tinha acontecido.
Meu cunhado, José Paula, disse para sua filha, Denise, que minha mãe era uma pessoa que transmitia paz. Quando ela chegava em qualquer ambiente tumultuado, tudo se acalmava. Ele conseguiu descrever bem como ela era.
Mas a distância que separa os olhos, não separa os corações.
Ainda estávamos no mês de outubro de 1951 e o Ideal tinha prometido que viria me visitar em dezembro daquele ano, pois estava fazendo o Tiro de Guerra, que corresponde ao atual Serviço Militar. Era, portanto, um ano sem folga.
Mas ele, que sempre foi muito determinado, logo fez amizade com o Comandante da Tropa. E o destino quis que o Comandante precisasse de ajuda para se mudar de casa. Ideal não perdeu tempo e se propôs a ajudá-lo com a mudança e, como agradecimento, o Comandante concedeu a ele 15 dias de férias.
Ideal, então, embarcou de avião para Uberaba, depois foi de Jardineira para Frutal/MG e, enfim, Itapagipe, onde deixou sua mala em uma pensão na cidade. Subiu em outra jardineira para São Francisco de Sales, já que essa era a única condução que passava próximo à Fazenda… digo próxima porque o resto do caminho era percorrido a pé.
Quando o vi, fiquei alegre e surpresa pois o esperava apenas em dezembro.
Meus pais o receberam com carinho. Mamãe tinha um batizado em Itapagipe e ela só voltaria no domingo. Fiquei na Fazenda com o papai, a Isolda - irmã da minha cunhada Olívia, e o Ideal.
Não estávamos sós, mas para mim parecia que no mundo só existíamos eu e ele.
Meu irmão José, assim que mamãe chegou na cidade e ficou sabendo que o Ideal estava na fazenda, veio buscá-lo. Então o Ideal teve que se despedir antes mesmo que a saudade pudesse ser amenizada e disse que não sabia quando poderia voltar.
Costumo ter meu coração cheio de muito amor e compreensão, mas naquela época fiquei muito chateada e sem entender o motivo de tantos ciúmes. Hoje, entendo que meus irmãos me amavam e pensavam apenas no melhor para mim. Não seria possível que eles tivessem conhecimento dos nossos sinceros sentimentos.
Na verdade, naquela época, apenas eu e o Ideal sabíamos que nosso amor não era só um amor de verão e que meu irmão Onobre estava errado. Aquele rapaz que morava em Goiânia, cidade com tanta morena bonita, sabia que seu amor não estava lá.
Por isso, em dezembro de 1952, o Ideal trouxe as alianças e fez o pedido de casamento aos meus pais. Foi perfeito e não tenho a pretensão de tentar descrever com palavras a emoção que tomou conta de mim naquele dia. Eu só tinha uma certeza: a de que nós éramos um só coração.
Após a aprovação deles, colocamos as alianças e meus irmãos não tinham mais motivos para se preocuparem.
Em julho de 1953, ele veio passar uns dias na Fazenda e, dessa vez, meu irmão José não veio buscá-lo.
Em outubro de 1953, a família do meu futuro marido - Sr. Daniel e Dona Sebastiana - veio de caminhão para Itapagipe, para tratar dos papéis no cartório para o casamento civil, porque Ideal só tinha 20 anos. Naquela época, precisava da autorização dos pais.
Enfim, depois de 1 ano, 5 meses e 12 dias de namoro e noivado, no dia 27/12/1953, na Fazenda Cachoeirão, o meu casamento com aquele rapaz que me conquistou no primeiro olhar, realizou-se com a celebração do Padre Guido. O matrimônio religioso e o Civil pelo juiz Júlio Venâncio, sendo testemunhas Daniel Aguiar de Faria e Elviro Evangelista da Rocha.
Tivemos uma festa muito animada. Estiveram presentes a família do noivo Ideal: seus pais; seu irmão Ideon e a sua irmã/afilhada Sirlene, bem como seus tios Elviro e Eudalina; sua avó paterna Joselina; seu primo Nego e sua esposa Nenzinha.
Da minha família estavam presentes nove dos meus irmãos e suas respectivas esposas; alguns sobrinhos, primos e amigos.
No dia seguinte, viajamos para Goiânia. Todos juntos no caminhão de meu sogro, literalmente viajamos na carroceria que tinha bancos e era coberta com um toldo.
Chegamos em Goiânia no dia 29/12/1953. Era uma terça-feira, e a segunda festa para comemorar nosso casamento já estava sendo preparada para o dia 30/12/1953. Foi outra festa muito animada com os familiares e amigos, cheia de alegria, música, dança e comida.
Éramos um casal feliz. Tínhamos pouco, confiávamos no trabalho e almejávamos um futuro afortunado.
Capítulo 3 – De 1954 a 1960 – Os desígnios de Deus

A chegada do nosso primeiro filho foi uma alegria total.
Lembro-me claramente que no dia 31/10/1954 chovia muito, mas naquele dia a aparente tristeza de um dia chuvoso foi iluminada com a chegada do primogênito Helcias. O batizamos com esse nome em homenagem ao bisavô do Ideal.
Enfim, eu era esposa e mãe. Vivo em eterna gratidão por Deus ter me concedido tão grande dádiva.
Helcias foi bem mimado por todos, e até os 2 anos, era um bebê bem tranquilo. Mas, quando ele resolveu sair de casa sem que todos percebessem, passamos a ter que vigiar o portão. Não podia ficar aberto!
Quando conseguia escapar, os funcionários da borracharia, na esquina, ficavam conversando com ele até eu chegar. Certo dia, ele saiu em outra direção e, quando demos por sua falta, saímos à sua procura. Ele não estava na borracharia. O encontramos bem distante de casa, uma senhora estava tentando entretê-lo. Quando cheguei, fiquei aliviada, pois já estávamos bem preocupados. O Ideal até tentou dar uma lição nele, mas minha mãe, uma avó muito protetora, não deixou e disse: “Ele ainda não sabe o que está fazendo”.
Mal sabia ela que o Helcias, desde pequeno, já nos avisava da sua natureza inquieta. E, como vocês vão perceber no decorrer dessa leitura, ele adorava uma mudança.
Eu já estava grávida pela segunda vez quando recebi a notícia, em 30/3/1956, do falecimento do meu pai, Lázaro Nunes Gonçalves, com 81 anos. Naquele dia, todas as memórias de um pai cuidador e protetor vieram à tona em forma de uma saudade antecipada.
Mas o luto pela perda do meu pai teve que dar espaço para o nascimento da minha filha. Em 03/07/1956 nasceu Maria de Fátima, minha menina.
Seu nome foi dado em homenagem à minha Santa Protetora, Nossa Senhora de Fátima, porque eu não tinha nenhuma dúvida de que a sua chegada completaria a nossa família e que essa seria a minha eterna alegria.
A Fátima sempre foi uma criança bem calminha e gostava muito de dançar. Perto de nossa casa havia um parque de diversão, e ela sabia a hora que o parque iria abrir porque tocava uma melodia. Quando a música tocava, ela dançava e encantava a todos.
Helcias e Fátima sempre brincavam muito. Ele adorava andar com o seu velocípede, levando a irmã na garupa.
Por dois anos, vivemos como uma família perfeita. Ideal trabalhava como caminhoneiro; Helcias e Fátima cresciam com as estripulias normais de qualquer criança.
Mas quis o destino que a frase “o que é bom dura pouco” fizesse tanto sentido na nossa família. Em 1958, Ideal foi diagnosticado com a Doença de Chagas.
Em Goiânia, consultamos vários cardiologistas: Dr. Omar, Dr. Aniz Rassi, Dr. José Ludovico. Mesmo após realizarmos consultas em São Paulo, o diagnóstico não mudou.
Naquela época, conhecíamos a Chagas como a doença que enfraquecia o coração do seu portador. Mas, pelo menos por um tempo, o Ideal tinha outros planos. Ele não se abateu e continuou trabalhando.
Em 1959, minha irmã Agostinha e seu marido José foram morar em Brasília, no Núcleo Bandeirante. Sebastião e sua família já moravam em Brasília e, então, nos mudamos em 24/02/1960 para a nova Capital do País.
O Ideal era um entusiasta da nova Capital, e fomos morar no Núcleo Bandeirante. Ele, em sociedade com o irmão Ideon e o Tio Elviro (irmão de dona Sebastiana) montaram uma padaria na qual trabalhou incansavelmente até agosto do mesmo ano.
Mas, assim como o Ideal, a Doença de Chagas era persistente. De agosto a novembro de 1960, foram meses de muitos remédios e hospitais. Apesar de tanto cansaço, ele ainda se mantinha forte, carinhoso e atencioso comigo e com os filhos.
No dia 08/11/1960, ele partiu para os braços do Pai eterno.
Por algum tempo, fiquei sem chão e com um vazio enorme em meu coração. Confesso que, apesar de anos de leitura e conhecimento de vida, ainda não encontro as palavras corretas para descrever o que realmente sentimos em momentos como esse.
Mas eu tinha a certeza de que o que vivemos não foi em vão e, aos poucos, com o amor aos filhos; com a minha fé em Deus e com o apoio da família, o vazio do meu coração foi preenchido por uma gratidão pelo que eu e o Ideal vivemos.
Dizia a mim mesma: “Volte à realidade. Você tem dois filhos para criar”.
Capítulo 4 - De 1961 a 1970 - De Brasília à Goiânia

Em 1961, após o falecimento do Ideal e ainda em Brasília, fomos morar com meus sogros - Sr. Daniel e Dona Sebastiana. No mesmo lugar também moravam o Ideon, irmão de Ideal, e sua esposa Salma. Eles tinham 4 filhos: Hélcia, Écio, Elmo e Hélida.
Éramos uma grande família. Eu tinha o suporte de meus sogros; enquanto meus filhos, a companhia dos primos.
Para muitos, os dias com tantas crianças juntas poderiam ser mais barulhentos e com muitas confusões.
Mas, para mim, a presença de tantas crianças era sinal de muita felicidade. Algumas brigas e confusões, é claro, mas a alegria sempre conseguiu seu espaço de novo. A vida como ela é, pelo menos aos meus olhos.
Helcias começou o pré-escolar no Colégio Dom Bosco, onde fez a primeira Eucaristia. Fátima e Hélcia, sua prima inseparável, estudavam no Colégio Sagrado Coração de Maria, onde fizeram a primeira comunhão.
Em 1963, voltamos para Goiânia, ainda na companhia do Sr. Daniel e Dona Sebastiana, que não permitiu que ficássemos em Brasília. Continuamos a morar todos juntos.
Nessa época, resolvi voltar a estudar. Deixava as crianças no Colégio São Francisco e ia para a Escola Técnica de Comércio de Campinas, no mesmo bairro onde morávamos, na Vila Coimbra. Terminei o curso ginasial e concluí o Curso Técnico de Contabilidade em 1968.
Em 1966, Helcias e Fátima iniciaram o curso ginasial. Ele no Colégio Estadual Pedro Gomes e ela no Colégio Santa Clara. Terminaram o ginasial em 1970 e começaram o científico.
Em 18/08/1966, mamãe, com 71 anos, depois de padecer de um câncer no duodeno, partiu para a casa do Pai. Ela nos deixou como legado uma vida de fé, esperança e muita sabedoria. Era um ser de luz que transmitia muita paz por onde passava.
Em 1971, eu e meus filhos nos mudamos para a Rua 08, no centro de Goiânia. Foi uma experiência muito gratificante porque, enfim, nós três tínhamos a nossa própria casa e podíamos tomar as decisões da nossa família.
Capítulo 5 - De 1971 a 1979 - De Goiânia à Brasília

No final de 1972, voltamos para Brasília. Alugamos um apartamento, na Asa Norte, ao lado do da minha irmã Agostinha. Naquela época, nossa família já havia crescido “de novo”. Calma, vou explicar.
Eu, Helcias e Fátima morávamos com mais dois amigos de Goiânia: a Célia, que veio para trabalhar, e o Dioclécio, para estudar engenharia na UNB. O nosso apartamento era pequeno. Tinha uma sala, cozinha, área de serviço, terraço, dois quartos e um banheiro, mas nunca houve atritos entre os ocupantes.
Bom, talvez alguns pequenos atritos de tentar acordar Helcias para ir ao trabalho, mas nada que mereça muitos detalhes nesse momento de pura paz na família.
Helcias e Fátima começaram a trabalhar no Banco do Brasil em 1975 e 1976, respectivamente. Eu fiquei muito feliz em ver que meus filhos estavam buscando suas independências.
Em 03/01/1976, Helcias se casou com a Marta e eles vieram morar conosco. Apesar do ditado “onde come um, comem dois”, o Dioclécio se mudou, cedendo o espaço para o novo casal.
Não demorou muito para que mais um membro chegasse à nossa família. Em 01/06/1977, chegou a Daniella, minha primeira neta. Foi uma alegria geral e eu virei avó aos 42 anos.
Quando a Daniella fez 42 anos, eu disse à ela: “Na sua idade eu já era avó”. Vocês não imaginam a cara de espanto que ela me olhou.
À época, o Helcias cursava faculdade de Processamento de Dados na UNB e fazia estágio na Datamec (empresa do governo). Mas em 1978 trancou sua matrícula e, após a venda dos imóveis de Goiânia, deixados de herança pelo pai, comprou um apartamento da SQN 416 e mudou-se com sua esposa e filha.
Em 12/02/1979, eles tiveram mais uma filha: a Mariana. Eu ganhei minha segunda neta. Ela tinha o cabelinho encaracolado e era uma grande felicidade para nós, menos para a Daniella, que adorava fazer “um carinho” na cabeça da irmã. Nesses momentos, sempre tínhamos que estar à postos para segurar a mãozinha que pretendia, na verdade, dar um “tapinha” na nova irmã.
Eu era pura alegria, orgulhosa e agradecida a Deus por esses tesouros. Minha família crescia e eu não me sentia só.
Em 16/06/1979, a Fátima se casou com o George. Eu e a Célia fomos morar com o novo casal na SQS 415.
Mas as mudanças não pararam por aí. Ainda em 1979, o Helcias resolveu se mudar para Fortaleza/CE. Por um tempo, as meninas ficaram comigo e com a Fátima, até que o Helcias e a Marta organizassem a nova residência.
Em dezembro de 1979, levei as meninas para a nova morada e fiquei por lá até março de 1980.
Dizem que a vida requer mudança. Acho que isso é verdade, porque fazendo essa retrospectiva percebi o tanto de movimento que tive na vida.
Tudo pelo que passei se tornou parte de quem sou hoje: minhas boas lembranças, minhas dores e lágrimas, os momentos felizes e as tristezas. Nada foi em vão! Acredito que tive a sabedoria necessária para aceitar os desafios e sempre enfrentá-los com paciência, resiliência e com a fé em Deus.
Capítulo 6 - De 1980 a 1987 - Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia e Brasília

Por um curto período, em virtude do trabalho do George, eu e Fátima nos mudamos como ele para Belo Horizonte/MG, mas logo voltamos para Brasília. Ainda me lembro da felicidade ao chegar no eixão e ver as luzes da cidade. Pensei: “É aqui que temos que ficar”.
Fomos morar na SQN 316, Bloco J, apartamento 109, e depois mudamos para a mesma quadra no Bloco I, apartamento 608.
Em maio de 1980, fui para Fortaleza/CE, para cuidar das meninas, pois Marta trabalhava à noite no caixa da lanchonete deles e o Helcias trabalhava à noite no Banco do Brasil.
O Helcias, então, foi transferido, à interesse do Banco do Brasil, para Florianópolis/SC. Mais uma vez, as meninas vieram comigo para Brasília até que os pais pudessem organizar mais uma nova residência.
Em abril de 1981, a Fátima e eu fomos visitá-los em Florianópolis/SC, pois estávamos saudosas. Em virtude da distância, dividimos a viagem em duas etapas. Na primeira de Brasília a São Paulo, casa da Terezinha, mãe de George, e na segunda partimos para Florianópolis de ônibus.
Na primeira parada, às 22h, ainda no Estado de São Paulo, Fátima sentiu-se mal com uma forte dor abdominal e essa dor foi aumentando até Florianópolis. Assim que chegamos na rodoviária, o Helcias a levou para uma consulta em uma Clínica e o médico a encaminhou com urgência para o Hospital. Estava com uma hemorragia interna.
Mas ela era forte e teimosa, deve ter puxado ao pai, porque eu sou muito calma. Naquela época ainda não tinha surgido a frase mais famosa na nossa família de autoria da minha neta Juliana – “A vovó é a pior”.
Voltando à Fátima: ela se recusava a entrar para a cirurgia, pois queria falar com o esposo em Brasília. O médico me disse: “Convença sua filha a entrar para a cirurgia, a pressão dela está caindo, vai chegar a zero e ela vai cair”.
Foram horas difíceis, só a fé em Deus me sustentou. Lembro-me que não entrei em pânico, apesar de não saber o que estava acontecendo. Rezava e esperava notícias do médico. Perdi noção do tempo, até o momento em que o cirurgião disse que estava tudo bem e que ela estava na sala de recuperação. Chorei de felicidade e agradeci a Deus pela sua infinita misericórdia. Minha menina estava bem.
Em 31/08/1982, em Brasília, nasceu o Vinícius, meu primeiro neto menino. Eu não era uma avó de primeira viagem e já sabia exatamente o que fazer. Que emoção poder cuidar daquele bebezinho tão bonzinho.
Dois anos depois, mais uma neta. Minha caçulinha nasceu!!
A Juliana chegou 27/02/1984. Assim que conseguiu começar a se expressar, ela, que era a neta mais nova, não se intimidou com as 2 primas mais velhas e o irmão Vinícius. Pelo contrário, sempre achava um jeito de desafiá-los.
O amor de avó era mesmo infinito. Meu coração estava cada vez mais preenchido e minha vida cada dia mais completa.
Então, no ano de 1986, precisamente no dia 27 de março, uma quinta-feira Santa, a Marta nos deixou. Depois de muito tempo apenas celebrando a vida, nossa família teve que se reunir para chorar a morte.
Naquele momento, todo o trajeto da minha vida, todas as minhas dores e experiências já haviam se transformado em força e eu sabia que nossa família era tudo o que precisávamos para recomeçar.
Nos mudamos para a SQN 203 para um apartamento com espaço para acomodar 10 pessoas. Eu, Fátima, George, Vinícius, Juliana, Helcias, Daniella, Mariana e nossas duas ajudantes Marlene e Celi.
Em 21/02/1987, o Helcias se casou com minha sobrinha Silvana, filha do meu irmão José e de sua esposa Maria Eunice e, então, eles vieram morar em Brasília.
Eu e Silvana fazíamos salgados para vender, e também foi nessa época que surgiu a tão famosa “Torta de castanha”, receita exclusiva da Fátima.
Mas, um dia, Helcias e Silvana resolveram morar em Barretos/SP com as meninas.
Mais uma vez, a vida ia se acomodando aos poucos, ora de forma caótica, ora de forma ordenada, mas sempre com a base do amor de uma grande família.
Dizem que a vida não deixa espaços em branco, não é mesmo? Desde o falecimento do Ideal, passei a cuidar da minha família e de todos que estavam à minha volta.
No final de 1987, um amigo da família ficou viúvo. Eu sabia o que ele estava passando… ou pelo menos imaginava que, assim como eu, 28 anos atrás, ele poderia estar se sentindo sem rumo, vazio e com a falsa sensação de que a vida não valia mais a pena.
O convidei para ir à igreja para que juntos pudéssemos rezar e encontrar o amparo nos braços do nosso Deus misericordioso. Entre uma missa e outra, uma caminhada e algumas conversas de apoio e carinho, nossos corações começaram a bater naquele ritmo diferente que já conhecíamos.
Assim, em 08/10/1988, casei com Ataídes Rodrigues de Morais. Ele, que já era muito querido pela nossa família, mais conhecido por ser o Sr. Ataídes, passou a ser o Vovô Tide dos meus netos e o meu segundo amor.
Na época do casamento, o núcleo familiar de Ataídes era composto por três filhos: José Eustáquio, Everaldo e Oswaldo; a filha Juraci; três noras: Valmira, Marta e Paula; o genro Mércio. Ele também já tinha seis netas: Fernanda, Alessandra, Ana Paula, Sabrina, Carolina, Lisandra e um neto: Paulo Henrique. Depois do nosso matrimônio, ainda chegaram mais uma neta, Gabriela, e dois netos: Daniel e Guilherme. Além das bisnetas Isadora, Ana Laura, Alice, Heitor, Henrique, Marina, Hugo, Luísa, Rafael e Teresa.
Em 1989, construímos um apartamento na 705 Norte. Terminada a construção, fomos para a Fazenda Cachoeira do Queimado e só vínhamos a Brasília nos finais de semana. Na Fazenda com poucos recursos, procuramos encontrar meios para manter as despesas. Primeiro com o Dr. Eduardo, fazendeiro amigo, pegamos vacas leiteiras, dando pasto e trato em troca do leite, entregue na Cooperativa de Unaí (CAPUL). Depois, com outro vizinho, foram gados para engorda, dividindo o lucro na ocasião do abate. De outro vizinho, novilhas para dividir crias - as fêmeas para nós e os machos para o dono delas.
Assim começamos a vida na Fazenda: um período de muito trabalho, alguns dissabores e sempre com a esperança de que iríamos vencê-los.
Em união com os vizinhos e empregados, começamos a formar uma comunidade de oração. No início, rezávamos o terço mensal em cada uma das residências. Depois conseguimos em Unaí, na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, um Padre que vinha todo o mês celebrar uma missa em uma residência. E assim surgiu a ideia de construir uma Capela.
O Ataídes doou um espaço que ficava na divisa com um posto de gasolina e tivemos um período muito gratificante e trabalhoso para angariar os fundos para construção.
Finalmente a Capela Nossa Senhora Aparecida ficou pronta e funciona até os dias de hoje. Pertence à Paróquia de Cabeceira Grande/MG.
O ano de 1989 já estava quase no fim quando meu quinto neto nasceu. Em 01/11/1989, o Rafael, filho de Silvana e Helcias, chegou para fazer parte da nossa família.
Capítulo 7 - De 1990 a 1999 – E a família não para de crescer

Em 1992, minha filha conheceu a sua alma gêmea: Sergio Luiz Sampaio da Silveira, que passou a fazer parte da nossa família.
Como genro, o Sergio sempre esteve em prontidão para me acompanhar em uma taça de vinho, levar minha filha e meus netos para me visitarem na fazenda e tinha uma disposição incrível para viajar.
Na companhia dele e da Fátima, que carinhosamente me chamavam de “nossa malinha sem alça”, conheci vários estados do Brasil, alguns países da Europa e os Estados Unidos.
Sempre disposto e participativo em todos os eventos na família, foi um esposo inseparável da Fátima e estimado por todos os familiares.
Capítulo 8 - De 2000 a 2009 – Um novo milênio chegou

Até 1999, vivemos na expectativa de que o mundo acabaria no ano 2000. Aliás, tenho na memória um filme futurístico que assisti quando era menina e o ano 2000 não era nada bom.
Mas, apesar de todas as teorias catastróficas sobre o fim do mundo, a virada do ano de 1999 para 2000 foi apenas mais um dia como outro qualquer.
Na minha família, o novo milênio já começava com festa. Daniella, minha primeira neta, se casou com Gilson em 29/04/2000 e, desde então, moram e trabalham em Brasília. Eles não tiveram filhos e, pelo visto, serão eternos viajantes pelo mundo… nas férias, é claro, porque a Daniella tem que trabalhar às quintas-feiras (piada interna na nossa família, risos).
Em 17/11/2001 e em 07/03/2002, nossa família se despediu dos meus sogros, Dona Sebastiana, aos 87 anos, e o Sr. Daniel, aos 92 anos. O Ideal, enfim, poderia reencontrar seus Pais com um forte abraço.
Eles foram bisavós maravilhosos para meus netos. O Sr. Daniel adorava seu personagem de avô mal-humorado, sempre se despedia das crianças e de nós dizendo que era a última vez que o veríamos. Já minha sogra, Dona Sebastiana, apesar de ter mãozinhas tão pequenas, não economizava energia para mostrar o seu amor na forma das mais saborosas comidas.
Mas 2002 também foi um ano de festa. A Mariana se casou com o Luciano em 05/07/2002 na cidade de Barretos/SP. Depois de um tempo, se mudaram para Batatais/SP.
Foi o ano em que a quarta geração da minha família começou. Eu, que já era uma avó mais do que experiente, pude ser promovida à bisavó. Quanta alegria com a chegada da minha primeira bisneta Isabela, em 09/08/2002, filha da minha neta Juliana. Nasceu pequenininha, mas já de olhos arregalados para o mundo, e hoje é uma bela mulher.
O segundo bisneto, Matheus, nasceu em 28/10/2004 e o terceiro bisneto, Murilo, em 20/02/2008. Hoje belos rapazes, filhos de Mariana e Luciano.
Em 2007, eu e Ataídes vendemos a Fazenda e nos mudamos para Brasília novamente. Fomos morar na SQS 304, Bloco E, apartamento 503 e passamos a participar da comunidade da Paróquia São Camilo de Lélis.
Iniciei meus trabalhos na Legião de Maria, Associação de Católicos, aprovada pela Igreja e fundada em 07/09/1921 em Dublin na Irlanda, sob a proteção de Maria Imaculada Nossa Senhora das Graças.
Nossa missão é levarmos às pessoas, através de visitas em suas residências, o amor de Jesus Cristo Nosso Senhor e de sua Mãe Maria Santíssima.
As irmãs legionárias, em suas visitas, fazem orações e ouvem as histórias de vida dos idosos visitados. Nossos assistidos têm muita necessidade de conversar, sentem o calor de nossa amizade e pedem para sempre repetirmos a visita.
O amor de Cristo e Nossa Senhora renova a fé e a esperança.
Ajudo também o Grupo da Costura, também na Paróquia São Camilo, que confecciona enxovais para recém-nascidos em condição vulnerável. Participam desse grupo 51 senhoras.
Capítulo 9 - De 2010 a 2023 – Novas chegadas e despedidas

A vida é uma constante dança de encontros e despedidas.
O ano era 2015 e o Rafael, meu neto mais novo, casou-se com a Marcela em Barretos. Desde então, eles moram e trabalham por lá. Eles também não têm filhos.
Mas 2015 também foi o ano do começo de mais uma batalha. Ataídes teve um AVC e, a partir de então, não teve mais a mesma disposição. Em 12/01/2017, terminou sua jornada nesse mundo, deixando-nos com boas lembranças.
Ah, mas essa família adora uma raspa de tacho, não é mesmo? Eu, que fui a 15ª filha de uma família tão numerosa, recebi em 22/06/2018, o meu quarto bisneto, o Davi.
Davi é o filho da Juliana, minha neta, e do Gabriel, seu esposo. Ele não teve muito trabalho em conquistar o seu espaço no coração dessa família, que parecia já estar completa.
Muito alegre e comunicativo, foi logo se tornando o amigo de todos os familiares. Ele, que tem sempre um abraço pronto para cada um de nós, adora ajudar a enrolar os biscoitos de queijo… e, é claro, comê-los!
Nós achávamos que o ano de 2019 havia começado e iria terminar como outro qualquer. Mas, no último dia do ano, exatamente em 31/12/2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre a ocorrência de vários casos de uma nova pneumonia na cidade de Wuhan na China.
Apesar do alerta, nosso ano de 2019 ainda terminou em festa. A notícia que mudaria os rumos da humanidade somente foi recebida, no Brasil, em 26/02/2020 com o primeiro caso de coronavírus no país.
Estávamos no começo da Pandemia do Coronavírus.
O mundo, pela primeira vez em muito tempo, iria parar. Foi um ano de muitos desafios para todos nós, mas também foi uma época de muita solidariedade. Cuidamos uns dos outros nesse momento tão difícil, estávamos separados por máscaras e distanciamentos, mas unidos pelo coração e pela fé nos desígnios de Deus.
No Brasil, a campanha de vacinação já havia começado. Eu já havia tomado minha dose da vacina que nos ajudaria a enfrentar esse novo vírus. A Fátima e o Sergio tinham acabado de tomar a primeira dose da vacina… mas, como tudo tem seu tempo, em 07/03/2021, Sergio faleceu e nos deixou com todo o amor e a saudade.
“Quem partiu é amor que fica”. A frase, até então eternizada apenas em uma foto, passou a ser eterna, também, em nossos corações e no braço da Isabela, que fez uma tatuagem em homenagem ao seu avô.
No dia 26/02/2022, realizou-se o casamento de Juliana e Gabriel, na Capela da Igreja Santo Antônio, com a presença dos familiares e amigos. Dessa vez, já não tinha mais timidez que me impediria de levar as alianças. Tive a honra de participar desse momento e abençoar mais uma linda união na nossa família.
De fato, a primeira experiência como Dama de honra a gente nunca esquece.
Capítulo 10 - De 2024 e seguindo com fé, amor e levantamento de pesos

Já estamos em 2024. Aqui compartilhei um pouco das memórias que guardo no meu coração. Muitas histórias ficaram reservadas apenas para as conversas em família.
Nesse ano, tão perto de completar 90 anos, pensei em celebrar a vida de forma diferente e, em abril de 2024, iniciei uma jornada de visitas para relembrar o passado e encontrar com os parentes tão queridos.
Embarcaram comigo nessa jornada a Fátima, minha produtora de moda e assistente de navegação; e o Vinícius, diretor, operador de câmera e luz e, ainda, motorista nas horas vagas.
Juntos, visitamos as cidades de Barretos/SP, Itapagipe/MG, Avelinópolis/GO, Goiânia/GO, Unaí/MG e Brasília/DF, para rever os parentes e amigos queridos e celebrar a vida.
Deixo registrada minha eterna gratidão a todos os familiares e amigos que dispuseram de um tempinho para me encontrar, foram semanas de muitas visitas e inúmeras alegrias.
Tive ao longo de toda minha vida a satisfação de ser tia de 50 sobrinhos. Atualmente 35 sobrinhos ainda estão vivos e, apesar de ter conseguido encontrar com apenas 18 deles, todos, sem qualquer exceção, aqueceram meu coração com seus pedidos de “bença tia”.
Lamento não ter tido tempo, nessa jornada de visitas, de encontrar todos da família e amigos com os quais convivi. Mas mantenho todos os queridos amigos de longa data, Luiz, Marli, Dona Maria José, Elisa, Carla, Marcela, Luísa, Helena, Cláudia, Serginho, Melissa, Felipe, Marcella e minha primas Luiza e Terezinha, dentro do coração.
Estou próxima aos 90 anos e sei que estou a caminho da casa do Pai… quem não está? Mas aviso que não estou com pressa e ainda tenho pela vida a mesma alegria e gratidão que tinha nos meus primeiros anos de vida na fazenda. Só peço a Jesus, nosso mediador perante o Pai, que não me deixe errar o caminho.
Aproveito para registrar meus agradecimentos:
- A Deus que me fortalece;
- Aos meus filhos Helcias e Fátima, pelo amor, carinho, cuidado e paciência;
- A dedicação e amor recebidos de:
minha sobrinha e nora Silvana;
minhas netas e netos: Daniella e Gilson, Mariana e Fabiano, Vinícius, Juliana e Gabriel, Rafael e Marcela,
minha bisneta Isabela e meus bisnetos Matheus, Murilo e Davi.
Estendo meus agradecimentos à Coraci, Rosânia, Lourdinha e Hilda, pelo convívio de tantos anos com carinho e dedicação.
À Mary Franco, amiga muito querida e ao amigo George, parceiro de jogadas, que muitas vezes me faz perder a paciência, mas que nunca deixou de trazer o pão fresquinho pela manhã.
Minha gratidão à vida por tudo que vivi e que me transformou no que sou hoje: uma pessoa plena, feliz e realizada.
Finalizo com a oração do Salmo 25-4-5 “Faze-me saber os teus caminhos, Senhor, ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, por ti estou esperando todo dia”.

Sobre a autora

Nome de nascimento: Izabel Nunes da Silva
Nome após o casamento: IZABEL NUNES DE FARIA
Nascimento: 19/11/1934
Local: Itapagipe (MG)
Casamento: 27/12/1953, com Ideal Aguiar de Faria
É a 15ª filha de Lázaro Nunes Gonçalves, nascido em 1875, e de Maria Luiza da Silva, nascida em 1895, que se uniram em matrimônio religioso em 1909 ou 1910, e no civil em 1912. Desta união nasceram 16 filhos.
Irmãos, por ordem de nascimento e ano de falecimento:
Antônio 1911-1958, com 47 anos;
Adolfo 1912 -1975, com 63 anos;
Rita (morreu com 7 dias);
Onobre 1914 -1989, com 75 anos,
João 1916 - 2007, com 91anos;
Severiana (morreu com 7 dias);
Sebastião 1918 -1966, com 48 anos;
Pedro 1920 -1991, com 71 anos.
Maria (morreu com 2 anos);
Alexandrina (faleceu com 4 anos).
Jerônimo 1925 - 2018, com 93 anos;
Firmina 1927 (morreu com 10 anos);
José 1929 - 2013, com 84 anos;
Agostinha 1932;
Izabel 1934;
Manoel 1939 retirado por fórceps, sem vida.


Casamentos e família dos irmãos
Epílogo

Poema para a vovó

Na calma de um olhar sereno e doce, você foi começo de tudo.
“A culpa é sua” se hoje todos nós estamos aqui reunidos.
Você podia ter sido freira, mas uma voz interior ou talvez, o próprio destino a fez escolher o amor.... o amor do Ideal.
Sua presença é constante e envolvente. E, por isso, estamos sempre contentes.
Suas mãos registram histórias e alegrias. E, também, levantam pesos na academia.
Seu sorriso, um sol a brilhar no horizonte. E seu abraço, um refúgio, um afeto constante.
Sua memória invejável, como pérola rara.
Na cozinha, a bucha é sua. E só os mais atentos percebem que isso é mais uma prova de seu cuidado e afeto.
Seu amor é tão grande que nele não falta espaço para amigos, filhos, netos e bisnetos.
És generosa vovó, como as flores que espalham seu perfume no campo, e nem se dão conta pois fazem por amor, com toda naturalidade.
És a prova de que a verdadeira juventude não depende de idade.
Hoje, você é nossa matriarca, a nossa “vovó é a pior”, e com seu amor é nosso porto seguro em tempos de agitação.
Encerramos essa singela homenagem com muita gratidão por ter tido a chance de ser sua família nessa reencarnação.

Daniella, Mariana e Juliana,
As netas

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